Um olhar crítico sobre o futuro e a IA

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Entrevista com Diego San Esteban, Diretor Comercial da N5, fintech líder na América Latina.

O mundo que está por vir é misterioso para grande parte de nós. A IA e os artifícios que será capaz de criar mudarão nossa realidade para sempre. Por isso, a possibilidade de entrevistar um engenheiro em Sistemas formado pela USAL, que tem trabalhado na transformação da indústria financeira e em instituições públicas e privadas a partir da implementação tecnológica e do desenvolvimento humano, é mais uma forma de sondar o futuro. Especialmente porque, para além de suas tarefas técnicas, ele estará diretamente envolvido na construção do futuro como formador de profissionais na área. 

1) A sua formação te levou a estudar em universidades nacionais e estrangeiras, e o trabalho te transformou em assessor da indústria financeira, professor universitário e, também, escritor. Autores costumam ter “temas vitais”, ou seja, temas que os obsesssionam e os fazem escrever muito, sem nunca esgotar a inquietação. Qual você diria que é o seu? 

Escrevo porque sou apaixonado por observar e acompanhar processos de transformação. O que me move é ajudar a construir pontes entre estratégia, tecnologia e pessoas. Escrever, para mim, é uma forma de colaborar, de colocar em palavras o que às vezes, numa reunião, fica pairando sem ser nomeado. Meu tema vital é esse: como acontece a mudança real nas organizações, sem perder o que já funciona. Como transformar sem quebrar. É a minha maneira de contribuir, de abrir conversas e de acompanhar quem tem o desafio de fazer as coisas acontecerem. 

2) Em uma das suas cartas de apresentação, você confessa que trabalha “na interseção entre estratégia, tecnologia e inovação para transformar indústrias, especialmente a financeira.” Toda interseção é conflito, encontro de duas direções diferentes. Qual você diria que é o conflito entre estratégia e inovação? Em que sentido se vive, concretamente, o embate de forças na indústria em que você atua? 

Mais do que um conflito, vejo uma tensão natural. A estratégia organiza e prioriza. A inovação impulsiona e desafia. As duas são necessárias, mas exigem linguagens diferentes. Na indústria financeira isso é vivido com intensidade: instituições sólidas, com estruturas complexas, que ao mesmo tempo precisam responder a um ambiente que muda cada vez mais rápido. Vejo isso todos os dias: ajudar os times a inovar sem perder o foco, e fazer com que a estratégia não vire desculpa para estagnar. O desafio é integrar essas forças. E isso exige diálogo, discernimento e experiência. 

3) Você publica frequentemente newsletters e breves artigos nos quais se arrisca a ler o que está por vir. Você trabalha em um ambiente de inovação, mas esses textos costumam ser distópicos. Novamente, o paradoxo. Nesse sentido, o que te assusta na implementação da Inteligência Artificial? Quais desses riscos você acredita que podem ser evitados por meio da educação ou da comunicação? 

A IA é uma ferramenta poderosa. O que me preocupa não é a tecnologia em si, mas como e para quê ela é usada. Me inquieta que decisões sejam tomadas automaticamente, sem compreensão do contexto, ou que processos fundamentais sejam desumanizados em nome da eficiência a qualquer custo. Pela educação, podemos formar profissionais com discernimento, não apenas com habilidades técnicas. E pela comunicação, podemos antecipar debates, explicar sem simplificar e construir uma cultura de adoção mais consciente. Não se trata de frear a IA, mas de implementá-la com inteligência e responsabilidade. 

4) Em que atua a empresa onde você trabalha hoje? Quais são suas tarefas específicas ali? Em que medida você consegue expressar suas preocupações vitais nesse trabalho? 

Sou Diretor Comercial da N5, uma empresa que impulsiona a transformação digital de bancos, seguradoras e fintechs por meio de uma plataforma modular, escalável e desenhada para se integrar com agilidade a ambientes complexos. Automatizamos processos, melhoramos a experiência do cliente e simplificamos a operação diária com foco em impacto real. 

Isso se traduz em uma convicção muito concreta: cada proposta comercial precisa se sustentar na realidade operacional do cliente. Na N5, trabalhamos com companhias que não podem se dar ao luxo de prometer sem cumprir. Por isso, desde o primeiro contato, buscamos entender profundamente o problema, os sistemas, as pessoas envolvidas. O que me interessa não é apenas fechar um contrato, mas que o cliente possa dizer depois: isso nos fez bem, nos fez avançar. Esse é o verdadeiro impacto. O resto é apresentação. 

Do meu lugar, acompanho instituições que estão prontas para dar um salto tecnológico, mas também humano. Não se trata apenas de vender uma solução: trata-se de entender profundamente o negócio do cliente, os desafios que ele enfrenta, e construir uma proposta que melhore sua realidade. Nesse caminho, consigo expressar o que me importa: ajudar a tecnologia a liberar tempo, melhorar processos e gerar impacto tangível para as pessoas que a utilizam. 

5) Se você tivesse que aconselhar seus alunos sobre o que estudar, como se preparar para o mundo que está por vir, o que recomendaria? 

Recomendaria que não se limitassem ao técnico. Que aprendessem a pensar, a escrever, a escutar. Que desenvolvessem discernimento. Que não se apaixonassem pelas ferramentas, mas pelos problemas que podem resolver. Que explorem modelos de IA, sim, mas também lógica, filosofia, design de sistemas, comunicação. O mais valioso no profissional do futuro será sua capacidade de integrar mundos distintos. A ferramenta muda. O que não muda é a necessidade de pensar com profundidade e agir com integridade. 

6) Qual a importância que você dá à verdade e às relações humanas dentro de um grupo social produtivo? Quanto você acredita que cada fator influencia no sucesso empresarial? 

Ambas são essenciais. A verdade sem vínculo pode ser violenta. O vínculo sem verdade, ineficaz. Na minha experiência, os melhores times são os que conseguem construir confiança para dizer o que importa, mesmo que seja desconfortável. E que fazem isso com respeito, sem expor e sem se calar. Essa combinação — escuta atenta, franqueza e cuidado mútuo — é o que permite que as coisas avancem. Porque quando as conversas são reais, as decisões também são. 

7) “Não me interessa o que soa bem num pitch. Me interessa o que muda realidades”, você declarou uma vez. Em que isso se traduz na sua função, especificamente na N5? 

Isso se traduz em uma convicção muito concreta: cada proposta comercial precisa se sustentar na realidade operacional do cliente. Na N5, trabalhamos com companhias que não podem se dar ao luxo de prometer sem cumprir. Por isso, desde o primeiro contato, buscamos entender profundamente o problema, os sistemas, as pessoas envolvidas. O que me interessa não é apenas fechar um contrato, mas que o cliente possa dizer depois: isso nos fez bem, nos fez avançar. Esse é o verdadeiro impacto. O resto é apresentação… 

Muito obrigado, Diego San Esteban, por essa conversa tão rica! 

Nota publicada em: Diario SurNoticias; El Federal

Diego San Esteban, director comercial de N5

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