É possível criar uma startup com R$ 100? O latino que veio para o open finance e tem um faturamento milionário

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A empresa agora está presente em 18 países e espera fechar 2024 com um faturamento total de US$ 20 milhões

Bloomberg Línea — Open Banking e Open Finance são termos recorrentes no ecossistema de fintechs da América Latina. O primeiro baseia-se na troca regulada e segura de dados bancários entre instituições financeiras e terceiros, otimizando os processos bancários e o desenvolvimento de novos modelos de negócio.

O impacto é tão amplo que só o Open Banking deve movimentar os negócios em US$ 43,152 bilhões até 2026, de acordo com relatório da Allied Market Research.

O segundo, o Open Finance, é baseado na troca de dados bancários e não bancários, ou seja, dependendo do caso, pode levar informações governamentais, varejo, históricos de crédito, entre outros. Isso impulsionou a personalização de produtos financeiros, detecção de problemas em sistemas, prevenção a fraudes e outros serviços.

Mas como criar uma empresa ligada ao Open Finance e com alto faturamento? Para alguns, a ideia é suficiente para criar uma startup, e para outros é preciso um músculo financeiro inicial para tirar o projeto do papel.

A Bloomberg Línea conversou com o argentino Julián Colombo, CEO e cofundador da N5 Now, empresa fundada em 2017 que oferece soluções de simplificação para o setor financeiro e, após agregar diferentes clientes na América Latina, fechou uma rodada de investimentos nos Estados Unidos por US$ 76 milhões no ano passado, de acordo com relatos da mídia. Em 2022, a empresa foi reconhecida pela Microsoft como ‘Melhor Plataforma 22’, por ser a única voltada para Open Finance.

A entrevista a seguir foi editada para maior extensão e clareza.

Linha Bloomberg (BL): Você ressalta que abriu a empresa com um capital mínimo de US$ 100. Como foi isso? Em que você investiu os US$ 100 para começar e o que isso fez por você?

Julián Colombo (JC): O valor de US$ 100 está se tornando uma anedota bem conhecida, então vou adicionar detalhes. Ele havia viajado de Madri, onde morava, para Nova York para formalizar a criação da empresa. Isso envolveu a abertura de uma conta bancária, para a qual ele teve que depositar US$ 200 e, assim, deixá-la ativa.

Percebi naquele momento que quase não tinha dinheiro, então pedi ao executivo do banco que me ajudasse, concordando em abri-lo com apenas R$ 100. Esses US$ 100 foram o único investimento de capital na N5 durante os primeiros cinco anos da empresa.

No dia seguinte à abertura da conta, viajei para o Panamá para visitar um banco chamado Credicorp Bank e contei sobre a plataforma que iríamos criar. Eles acharam tão interessante que concordaram em nos pagar antecipadamente por isso, e isso nos permitiu contratar a equipe que acabou construindo.

BL: Qual foi o investimento que se seguiu a esse capital?

JC: Em pouco tempo, muitos outros clientes chegaram, todos com a mesma generosidade e entusiasmo pelo que estávamos criando, o que tornou desnecessário investir capital na empresa.

Foi só em 2023 que fizemos uma rodada de investimentos para atrair alguns dos fundos mais importantes do mundo, mas até então já tínhamos conseguido atender mais de 60 clientes e estar presente em 13 países com esses US$ 100 de investimento inicial (de capital próprio).

BL: O senhor foi enfático ao dizer que vivenciou o dilema de que é difícil um banco se atualizar ou inovar sem deixar de operar. Como foi o processo de identificação desse problema e sua transformação em E5?

JC: Trabalhei por mais de 25 anos no setor bancário. Comecei em uma filial na Argentina e depois de passar por cinco países acabei como membro do Comitê de Gestão Comercial do Grupo Santander em Madri.

Percebi que, embora um banco com 300 agências na Polônia fosse muito diferente de um com 5.000 no Brasil, ou mesmo um sem agências em Portugal, todos sofriam do mesmo problema, que chamo de “entropia tecnológica”, que é a tendência de seus sistemas se desorganizarem simplesmente por existirem.

Por mais que investissem em tecnologia, sua inovação ainda era muito lenta, justamente porque cada mudança, cada inovação, precisava estar conectada a milhares de sistemas, garantindo que nada parasse de funcionar. Um banco precisa de simplificação. A resposta não é incluir mais um software, mas reduzir centenas.

BL: O N5 é uma solução de software para empresas financeiras, de seguros ou de pagamentos. Poderia dar-nos um exemplo o mais não técnico possível de como funciona esta solução?

JC: É uma solução muito grande, com mais de 30 módulos que resolvem diferentes problemas. Vou dar alguns exemplos deles: um cliente pode iniciar uma transação no celular, ter um problema, ligar para a central de atendimento e depois tentar resolvê-lo na agência. Nos bancos que não usam essa tecnologia, é provável que eles (o cliente) tenham que explicar tudo o que aconteceu com ele em cada interação, ou até mesmo que não consigam resolver seu problema no canal que desejam.

Um de nossos módulos se encarrega de unir toda a história do cliente em ordem cronológica, independente do canal, além de permitir que você execute qualquer operação em todos eles. Assim, um executivo de filial pode ver exatamente onde estava o problema com o aplicativo, mas mais ainda, o cliente não precisa ir a lugar nenhum para resolver um problema, pois o sistema detecta erros e os resolve de forma proativa.

Agora imagine que você está sacando dinheiro em um caixa eletrônico. Embora possa parecer uma ação única, diferentes “robôs” olham para diferentes perspectivas deste evento. Por exemplo, verifica-se se tem saldo suficiente para liberar o dinheiro. Outro olha para ver se seu telefone está a quilômetros de distância, o que sugere que é uma fraude. No passado, os bancos construíram enormes “monólitos” de software para lidar com tudo isso. E se algo mudasse, eles tinham que ajustar tudo.

Com a nossa plataforma, se a instituição mudar o método de notificação, por exemplo, basta ajustar rapidamente o “robô” de envio de SMS para enviar notificações push, e todo o resto ainda funciona.

BL: Qual o papel da IA nesses tipos de desenvolvimentos e produtos?

JC: Completamente central, e de duas maneiras. Primeiro, todos os nossos módulos incorporam inteligência artificial. Em segundo lugar, alguns de nossos módulos são “fábricas de inteligência artificial” que permitem que o banco ou seguradora que usa nossa plataforma incorpore inteligência generativa em qualquer tarefa que desejar.

Como respectivo exemplo: um executivo de banco pode perguntar à nossa inteligência artificial qual cliente ligar neste momento, e oferecer a ele qual produto, e ele vai considerar milhares de variáveis para recomendar, inclusive, com quais palavras articular a oferta.

O Open Finance facilita a criação de serviços financeiros mais inclusivos, como microcrédito, seguros acessíveis e contas de poupança de baixo custo, todos projetados para atender às necessidades das populações carentes.Julián Colombo, CEO e cofundador da N5 Now

BL: Em termos de capitalização, quanto dinheiro o N5 Now arrecadou desde a sua criação?

JC: Nos primeiros cinco anos tivemos o apoio de muitos clientes extraordinários. No entanto, nosso crescimento e expansão geográfica nos levaram a procurar parceiros que pudessem trazer sua experiência e capital para nos ajudar a fazê-lo com mais sucesso.

Como sempre fomos rentáveis e tínhamos uma grande reputação entre nossos clientes, conseguimos atrair os parceiros ideais para nossa expansão global, como a Illuminate Financial, que conta com Citibank ou JP Morgan entre seus LPs, Exor Ventures da família Agnelli, Madrone Capital da família Walton, LTS e Arpex Capital, que são os family offices dos melhores empresários da região, e o Overboost da Argentina. A demanda para a rodada foi 8 vezes maior do que o planejado, então pudemos escolher nossos parceiros de forma muito seletiva.

BL: E por fim, quem são os principais clientes do N5 Now?

JC: Temos clientes em 18 países, principalmente na América Latina, mas também na Europa, Estados Unidos e Oriente Médio. Eles vão desde os maiores bancos, seguradoras e meios de pagamento do mundo, até cooperativas de médio porte ou instituições financeiras. Atualmente, são mais de 70, entre eles Mastercard, Santander, Itaú Zurich, Sura, N26, BCP.

No final de 2023, a empresa registrou um aumento de 275% no número de clientes e um aumento de 219% na Receita Recorrente Anual (ARR). Além disso, projeta-se fechar 2024 com um faturamento total de US$ 20 milhões.

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