Como Brasil, México, Chile e toda a região impulsionam um ecossistema financeiro mais aberto, competitivo e inclusivo graças aos dados e à inovação.
A América Latina atravessa um momento decisivo em sua história financeira. O que há poucos anos parecia um conceito futurista — a possibilidade de compartilhar dados bancários de forma segura, padronizada e com consentimento — hoje se consolida como política pública, inovação tecnológica e motor de competitividade. Essa mudança estrutural tem nome: Open Finance.
Na região, o princípio é simples e poderoso: cada pessoa decide com quem compartilha suas informações financeiras. Essa lógica impulsiona mais concorrência, produtos mais personalizados e inclusão financeira real em mercados historicamente desiguais.
Brasil, México, Chile e a vanguarda do Open Finance na Latam
Brasil: o modelo mais avançado da região
O Brasil deu o primeiro grande salto em 2021, quando o Banco Central implementou um esquema regulatório por fases para habilitar o intercâmbio seguro de contas, pagamentos, seguros e produtos financeiros por meio de APIs.
Hoje, milhões de usuários podem:
- visualizar suas contas em um único aplicativo,
- solicitar créditos mais ágeis e competitivos,
- acessar seguros ajustados ao seu perfil financeiro real.
A experiência brasileira já é comparada aos ecossistemas mais maduros da Europa.
México: pioneirismo regulatório
Com a Lei Fintech de 2018, o México abriu o caminho para o uso de padrões comuns entre bancos e fintechs. Como explicou Beatriz Durán, da Syncfy, o desafio está em “definir claramente os casos de uso e criar regras de jogo mais claras” para impulsionar pagamentos abertos e serviços mais competitivos.
Chile: um marco moderno e escalável
A Lei Fintec nº 21.521, aprovada em 2023, e a regulamentação do Sistema de Finanças Abertas (SFA) em 2024 posicionam o Chile como um dos ambientes regulatórios mais sólidos da região.
Colômbia, Peru, Equador e outros mercados em evolução
Esses países avançam em consultas públicas e desenvolvimento de marcos regulatórios, construindo as bases para integrar-se ao novo ecossistema financeiro regional.
Benefícios-chave do Open Finance para a América Latina
Segundo o estudo do BID e da FDATA, Open Finance in Latin America and the Caribbean, apenas cinco países têm regulamentações emitidas ou em implementação. Mas os benefícios para uma região com baixa inclusão e alto custo financeiro são enormes:
🔹 Mais concorrência bancária
Bancos e fintechs competem com regras similares, o que resulta em melhores taxas, tarifas menores e produtos mais eficientes.
🔹 Serviços hiperpersonalizados
A análise de dados permite créditos, seguros e investimentos baseados no comportamento financeiro real do usuário.
🔹 Maior inclusão financeira
Pessoas sem histórico bancário podem demonstrar seu comportamento de pagamento por meio de plataformas externas.
🔹 Finanças embutidas e experiências integradas
Aplicativos, comércios e plataformas digitais podem oferecer serviços financeiros dentro da própria experiência do usuário.
Os grandes desafios: privacidade, interoperabilidade e confiança
O modelo exige avanços em:
- proteção de dados e consentimento claro,
- cibersegurança robusta,
- padrões técnicos comuns,
- governança e capacidade institucional,
- confiança do usuário e educação financeira.
Como destacou Raúl Nava Salazar (IFC DIGILab), o objetivo é permitir que terceiros acessem dados “de forma segura e confiável”, sempre com o consentimento do usuário.
Para onde vai o Open Finance na região?
Especialistas como Mastercard ressaltam que, embora o México tenha sido pioneiro, o Brasil lidera a adoção prática. A fragmentação normativa é um desafio: se os países não convergirem em padrões comuns, a inovação multinacional pode ficar limitada.
Mas a direção é clara:
Open Finance não é um capricho tecnológico, e sim o futuro dos serviços financeiros na América Latina.
O que hoje parece novidade — um app que reúne contas ou um crédito instantâneo — em breve fará parte da rotina diária de milhões de pessoas na região.

